Educação Consciente

Antes de começar a ler este texto, saiba que a minha intenção não é te julgar e também espero que não faça isso com seus pais. Afinal, eu e você – leitor (a)- somos e tivemos os melhores pais do mundo. Aqui vamos falar dos vizinhos, afinal acreditamos que a violência mora ao lado.

Quero falar dos julgamentos, porque ele nos causam muitos danos e nos poem em lugares de vitímas. E quando somos vítimas não saimos do lugar. Então, anote esta frasse e grude num lugar visível:

Quando crianças fomos vítimas, hoje, adultos, não somos mais.

E como adulto, você precisa fazer algo por você e pelo próximo: limpar as suas feridas. Curar as feridas emocionais ou como algumas pessoas gostam de chamar, ressignificar, na verdade nada mais é do que assumir a sua vida adulta, sem levar nas costas seu passado.

Mas para isso, você vai precisar sim, olhar para trás e entender o que se passou. Sabe por que? Porque muitas das coisas que você viveu, sequer foram nomeadas. E o que não foi nomeado, não é organizado na psique.

Então, com um profissional adequado, você vai olhar o passado, liberar o trauma e seguir a vida. E não se preocupe se você não tem lembranças da infância, pois este é um mecanismo do cérebro para que você não enlouquecesse. Mas por sorte, o corpo guarda marcas e estas se mostram nos seus comportamentos, hoje, na sua vida adulta.

Tão pouco precisa ter medo achando que vai enlouquecer ao nomear o que te passou. Porque, hoje, você é um(a) adulto e nada, nem niguém pode ter machucar.

Esclarecido isso, vamos falar de violência. Quando falo de violência, logo vem a sua cabeça, cenas de violência física. Mas o que quero te falar hoje, é que existe uma violência invisível, e sim, essa todos nós praticamos, em maior ou menor grau.

A violência invisível, também chamada de passiva, muitas vezes é praticada sem a nenhuma consciência da mesma. Embora não seja praticada no intuito de maltratar – assim, desejamos acreditar. Mas não posso deixar de comentar que também existem casos feito com plena consciência e com atos de extrema crueldade.

Essa violência que ocorre no interior das quatro paredes de uma casa é sentida pela criança/adolescente como uma guerra, pois os agressores estão próximos. E o mais paradoxal é que tal violência se estabelece no lugar onde espera acolhida, proteção e respeito.

A violência que ocorre dentro de casa, consiste em um fenômeno degradante, que anula o ser criança/adolescente reduzindo-os, dessa forma, a simples objetos de maus-tratos, além de representar a omissão praticada pelos pais, parentes ou responsáveis, capazes de causar danos físicos, sexuais e/ou psicológicos às vítimas.

A saber, segundo dados no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania de janeiro a junho de 2023, houveram 97.341 denúncias de violência contra crianças e adolescentes. Ressaltando que, 81% da violência praticada contra crianças e adolescentes ocorrem intramuros, ou seja, é praticada por pais e familiares.

O fato é que esta violência faz estragos, inclusive na formação do cérebro da criança. E já na adolescência, é onde toda essa violência reprimida pela criança, volta com muita força, fazendo com que os pais acreditem, que a adolescência é mesmo uma fase difícil.

É pensando nessa infância violada, ou prestes a ser violada, que precisamos rever certos conceitos e estratégias de ação, pois a violência causa danos irreparáveis nos desenvolvimentos físico e psíquico de crianças e adolescentes, como a ciência já tem mostrado.

Com os fatos apresentados, acredito que mostrando aos pais os estragos feitos por essa violência, muitas vezes nem nomeada, no cérebro das crianças e adolescentes, fazendo uso de artigos científicos já compravados, abre para estes pais a possibilidade de fazer diferente.

Para isso, a palestra ministrada para pais sobre a violência invísivel na infância, pretende dar voz a estas crianças agredidas, inciando com a criança que fomos, para vivenciarmos a dor do passado e não repetirmos nos nossos filhos, a dor da violência, a dor do desamparo e a dor de uma vida emocional totalmente desestruturado no futuro.

Outro dia ouvi uma frase que faz muito sentido: Não é com julgamento que se reconstroi uma ponte. Não é com ódio. A única forma de reconstruir a ponte de vínculo e afeto com nossos filhos é atráves do amor.

Faz questão de reforçar, que apenas quando nos tornamos vuneráveis, observando os nossos erros, seremos capazes de dar o que não recebemos. Primeiro, enchendo o nosso potinho de amor, depois tanto aqueles que só esperam isso de nós: Nossos filhos.

É notório como a violência está mundialmente normalizada dentro do ambiente familiar. De tal forma que a violência praticada pelos pais contra os filhos ainda é aceita e muitas vezes apoiada. Sem dúvida, toda essa normatização vem de um contexto histórico, onde castigos físicos e ameaças eram praticados. E essa autoridade podia fazer o que desejava com seus filhos e nunca poderia ser questionada.

Antes, não estou dizendo que os pais não devem ser autoridade para os filhos. Pois são eles que vão ensinar sobre os limites para as crianças. Sempre me lembro de um rio. Os pais são as bordas deste rio. São eles que vão conduzir seus filhos.

Então, os maiores disciplinadores, leia autoritários, sempre foram os pais, mesmo que no período colonial a prática também tenha sido introduzida nas escolas. E como todos nós viemos mais ou menos dos mesmos lugares, ainda é possível observar dentro das escolas a violência invisível.

O fato é que para a obtenção da disciplina, práticas de qualquer forma de violência eram aplicadas como sinônimo de educação frente a lei dos adultos. Afirmo que hoje, essa prática ainda é comum, basta acompanhar os jornais. E muitas vezes, tragicamente, o final da história é a morte da criança ou do adolescente, por agressão ou suicídio.

Se houver uma reflexão sobre a violência é certo que mais do que qualquer tipo dela, nunca deveria ter uma justificativa para ser cometida contra a criança. Pois, as condições peculiares de desenvolvimento destes seres tão vulneráveis, os coloca em extrema dependência primeiro daqueles que os “cuida”, pais e familiares, depois do poder público e da sociedade.

Por sorte, hoje com o avanço dos estudos científicos das neurociências já foi provado que a violência praticada na infância e adolescência causa no ser humano estragos emocionais, inclusive com desfechos catastróficos que podem ocorrer no comportamento deste ser humano, ainda que na sua vida adulta. Muitas vezes, as pessoas nem ao menos se dão conta de que sua forma de vida hoje, muitas vezes, tão traumática, foi causada na infância.

Ainda sobre o impacto da violência na vida destas crianças e adolescentes pode-se citar uma grande repercussão biopsicossocial. Ou seja, trará consequências significativas em várias esferas da vida futura deles como: física, sexual, psicológica, comportamental, cognitiva e emocional.

Sem falar que muitas destas vítimas podem no futuro se tornarem futuros agressores. Para comprovar isso, basta olhar para a infância dos nossos pais, que perceberemos quanta violência foi ali dissipada. E quantas doenças eles padeceram ou padecem ainda hoje.

Embora hoje a Constituição Federal traga que é dever do Estado brasileiro assegurar e proteger a família, como núcleo básico da sociedade, na prática não é tão simples atuar e fazer com que este direito seja alcançado por todos. Esta responsabilidade de proteção se estende aos pais, que são responsáveis por educar seus filhos para que se desenvolvam em todas as suas competências.

A responsabilidade dos pais na família é dar aos seus filhos os cuidados necessários para a vida, como educação, estímulo à criatividade, saúde e boas práticas de alimentação. Além disso, é importante ensinar bons padrões de comportamento, afeto e carinho. De certo, se houvesse amor e respeito dentro de todos os lares, não precisaríamos de um Estado para resguardar um direito que já estaria sendo oferecido a todas as crianças e adolescentes.

Estamos todos no mesmo barco, ou remamos para um novo caminho, ou morreremos sem tentar.

Beijinhos

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